Pontos Principais
Um adiamento das tarifas EUA-China foi acordado, elevando o ânimo do mercado. Mas, devido ao sistema comercial global extremamente interligado, é provável que haja grandes consequências dessa saga, mesmo que um acordo a longo prazo seja alcançado. Novas alianças já estão sendo formadas enquanto laços mais antigos estão sendo fortalecidos.
China e EUA Conversam Sobre Comércio
Os EUA e a China parecem ter chegado a um acordo para adiar tarifas significativas por um período de 90 dias, já que a guerra comercial surpreendentemente amenizou esta semana. Em vez de os EUA imporem tarifas de 145% sobre produtos chineses e a China impor 125% sobre produtos americanos, os países reduziram os valores em 115% cada.
Por enquanto, os EUA cobrarão 30% sobre os produtos chineses que entrarem no país, enquanto a China imporá taxas de 10%.
A notícia é um alívio para os importadores dos EUA, que têm estado presos na incerteza. Segundo relatos, os primeiros contêineres marítimos transportando produtos chineses sujeitos às tarifas de 145% começaram a chegar aos portos dos EUA esta semana. Não está claro se a taxa mais alta ainda se aplicará a esses produtos.
De acordo com dados da Vizion, as reservas de exportação dos EUA permaneceram bastante estáveis, mas as reservas dos EUA para a China caíram drasticamente.
*WoW – em relação à semana anterior
*YoY – em relação ao ano anterior
Fonte: Vizion
A notícia de uma pausa nas tarifas também chega em um momento oportuno, visto que as economias dos EUA e da China estão sofrendo. Dados de abril mostram que a deflação chinesa está piorando.
Fonte: National Burea of Statistics of China
Grandes varejistas na China, como JD.com, Tencent e Douyin, estão intensificando os esforços para vender produtos originalmente destinados aos EUA para os mercados domésticos, criando uma guerra de preços feroz, com alguns itens com descontos de até 55%.
Mas Wendy Cutler, ex-representante comercial adjunta interina dos EUA durante o governo Obama, alertou que a tolerância da China ao ‘sofrimento’ é muito maior do que a dos EUA, em entrevista à CNBC. O PIB dos EUA reduziu no primeiro trimestre pela primeira vez desde 2022. Embora isso marque um período anterior à imposição das tarifas, não é um bom presságio para o primeiro período do presidente Trump na presidência.
Fonte: Bureau of Economic Analysis
Reino Unido no Primeiro Acordo Comercial com os EUA
Mas o prêmio pelo acordo comercial mais rápido com os EUA vai para o Reino Unido, que garantiu um novo acordo com os EUA imediatamente após assinar um acordo com a Índia. Os principais itens do acordo EUA-Reino Unido incluem aço, automóveis, etanol e carne bovina.
O governo do Reino Unido enfatizou que os padrões alimentares britânicos não serão reduzidos pelos produtos dos EUA, mas os agricultores britânicos estão preocupados com a possibilidade da carne bovina tratada com hormônios também entrar no fornecimento alimentar do país. Críticos afirmam que não há processos em vigor que possam determinar se a carne bovina importada contém hormônios ou não. Aves – que são tratadas com cloro nos EUA – não serão incluídas no acordo.
Há também preocupações com o setor de bioetanol do Reino Unido, visto que o país oferecerá uma taxa zero preferencial sobre até 1,4 bilhão de litros de etanol dos EUA. A demanda por etanol no Reino Unido gira em torno de 2 milhões de toneladas, sendo suprida principalmente por empresas sediadas no Reino Unido.
Mas este pode ser o único aspecto positivo para os agricultores dos EUA nos próximos quatro anos, uma vez que a ONG Food and Water Watch alertou que este grupo é extremamente vulnerável ao impacto das guerras comerciais.
UE Revela Contramedidas
À medida que o Reino Unido se aproxima dos EUA, a UE parece estar perdendo a paciência com as tarifas ameaçadoras. Na semana passada, lançou uma consulta sobre possíveis contramedidas para os EUA caso as negociações comerciais fracassem. Foi divulgada uma lista contendo EUR 95 bilhões (USD 105 bilhões) em mercadorias, incluindo carne e animais, peixes e frutos do mar, frutas e vegetais, grãos e oleaginosas.
Até 2023, o valor do comércio de produtos e serviços entre os EUA e a UE foi de EUR 1,6 trilhão.
Fonte: European Commission
Na mesma semana, a UE renovou seu compromisso de eliminar completamente e de forma gradual o gás russo até 2027. A UE planeja reduzir o consumo total de gás entre 40 e 50 bilhões de metros cúbicos até lá, o que a ajudará a remover o gás russo de seu fornecimento. A UE estima importar 36,5 bilhões de metros cúbicos em 2025, abaixo dos cerca de 150 bilhões de metros cúbicos em 2021.
Fonte: European Commission
Mais Problemas nas Importações e Exportações
Em mais uma má notícia para o México (e para os consumidores dos EUA), o governo federal ameaçou rescindir um acordo conhecido como Acordo de Suspensão do Tomate EUA-México – TSA (em inglês, US-Mexico Tomato Suspension Agreement). Como o nome sugere, este acordo suspendeu os direitos antidumping sobre as exportações mexicanas de tomate para os EUA.
No entanto, o governo agora ameaça revogar o acordo, o que significa que os tomates mexicanos estariam sujeitos a uma taxa de 21% a partir de 14 de julho. O governo argumenta que o acordo prejudica os produtores de tomate dos EUA.
Entre os críticos da medida está a Texas International Produce Association – TIPA (Associação Internacional de Produtores do Texas), que argumenta que os EUA precisam ter acesso a mais produtos frescos. A Fresh Produce Association of the Americas – FPAA (Associação de Produtos Frescos das Américas) também incentivou o governo a “negociar um novo acordo para o tomate que ofereça suporte às inovações dos importadores dos EUA, continue a atender às demandas dos consumidores americanos e ajude os produtores domésticos a melhorar sua capacidade de concorrência”.
Um estudo da Texas A&M estima que 46.936 empregos nos EUA são sustentados pelas importações de tomate do México, que têm um impacto econômico de USD 8,3 bilhões por ano.
Fonte: Texas A&M
Brasil e China Fortalecem Laços
A guerra comercial com os EUA parece ter aproximado ainda mais a China e o Brasil, com o Brasil surgindo como um dos grandes vencedores de todo o transtorno. O Brasil é um dos maiores concorrentes dos EUA na exportação de produtos agrícolas e, com um grande importador ao seu lado, parece haver perspectivas positivas para o Brasil.
Esta semana, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos três líderes latino-americanos a voar para Pequim para se encontrar com o presidente Xi Jinping e prometeu laços “indestrutíveis” com a megapotência asiática.
Um desenvolvimento positivo para o Brasil é a retomada das negociações sobre uma mega ferrovia que cruzará o continente de leste a oeste, conectando o Peru e o Brasil. O projeto está em discussão há décadas, com as negociações estagnadas há muito tempo – mas a ambição da China de desenvolver rotas comerciais alternativas nas Américas pode muito bem ser o catalisador necessário para retomá-las.
A Ministra do Planejamento do Brasil, Simone Tebet, disse na semana passada que houve novas reuniões sobre o futuro do projeto, que eventualmente ligaria o Porto de Chancay, na costa do Pacífico do Peru, ao porto de Ilhéus, no leste do Brasil.
O Corredor de Integração Leste-Oeste (FICO), com 1.527 km de extensão, de Barreiras a Ilhéus, já começou a ser construído. A concessão de 35 anos para o primeiro trecho de 537 km foi concedida à Bahia Ferrovias em 2021.
Em mais um sinal de que o Brasil está surgindo como vencedor da guerra comercial, a China está importando mais produtos agrícolas do país latino-americano. As importações chinesas de farinha de trigo superaram consistentemente a média de cinco anos no segundo semestre de 2024 e nos primeiros quatro meses de 2025.
Fonte: Comex
Novas (e Contínuas) Hostilidades Geopolíticas
Após alguns anos de guerras em todo o mundo, um novo ponto crítico surgiu com o aumento das tensões entre a Índia e o vizinho Paquistão. Assim como crescia a esperança de um retorno ao Mar Vermelho após um acordo firmado entre os EUA e os houthis, a notícia do lançamento de um míssil indiano na quarta-feira surpreendeu os observadores.
Fonte: CFR Global Conflict Tracker
O ataque teria sido uma resposta a um suposto ataque de militantes paquistaneses na Caxemira, que matou 26 pessoas. No sábado, porém, ambos os lados haviam chegado a um acordo de paz inicial (frágil) com a ajuda dos EUA, com a maioria dos especuladores concordando que os impactos nos mercados mais amplos serão limitados.
Mas no Mar Negro, todos os olhos estão voltados para a Turquia – local de uma reunião planejada entre os presidentes Putin e Zelensky nesta quinta-feira. Embora Zelensky tenha sido receptivo à reunião, Putin manteve-se em segredo sobre sua presença – e sua ausência pode indicar relutância em negociar a paz.
Maersk Questiona a Condição de Potência Industrial dos EUA
O grupo de transporte marítimo Maersk expressou preocupação com a guerra comercial, revelando que os volumes de contêineres caíram até 40% entre os EUA e a China em abril. O CEO Vincent Clerc questionou a capacidade dos EUA de retornar à condição de potência industrial, citando escassez de mão de obra e altos custos.
O índice mundial de contêineres da Drewry mostrou que a taxa para a rota de Xangai para Los Angeles caiu para USD 2.713 em 8 de maio, uma queda de 32% em relação ao ano anterior.
Fonte: Drewry
Preços dos Ovos nos EUA Finalmente Caem
Os consumidores americanos estão gradualmente se tornando mais dispostos a pagar preços mais altos por alimentos, de acordo com um relatório da Numerator. O preço médio que os compradores estão dispostos a pagar por uma dúzia de ovos subiu de USD 4,90 em janeiro para USD 5,56.
Mas o escrutínio está se intensificando sobre os produtores, incluindo a Cal-Maine Foods, que luta contra um surto de gripe aviária que dizimou seus estoques de aves para cerca de 150 milhões de frangos desde 2022. A empresa relatou lucros recordes de USD 508 milhões em seus registros para o terceiro trimestre de 2025, levando o Departamento de Justiça a iniciar uma investigação.
Os preços dos ovos finalmente começaram a cair em abril após um aumento sustentado.
Fonte: St Louis Fed
Surto de Bicheira no Gado Mexicano
Enquanto a Europa luta para conter o vírus da língua azul, a bicheira, uma praga letal, foi detectada no gado mexicano, levando os EUA a suspender as importações “até que uma janela significativa de contenção seja alcançada”, de acordo com a Secretária de Agricultura Brooke Rollins.
