5 Dicas Para Entender a Safra de Soja do Brasil

Pontos Principais

  • O plantio de soja começa em setembro, mas é normal que ele ganhe mais ritmo somente em outubro.
  • Há grandes diferenças entre as regiões produtoras – inclusive em relação ao impacto da La Niña.
  • A área plantada cresceu 66% nos últimos dez anos, e a maior parte desse avanço não foi na Amazônia.

A área recorde de 42,7 milhões de hectares que deve ser semeada com soja na safra 2022/23 do Brasil estava 1,5% plantada até 23 de setembro, em linha com o 1,3% do mesmo período do ano passado e à frente do 0,8% da média de cinco anos, de acordo com dados da AgRural. O plantio já chegava a 8% da área no Paraná, terceiro maior produtor de soja do país, mas ainda não alcançava a 2% em Mato Grosso, o maior produtor.

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Como as chuvas ainda estão muito irregulares em Mato Grosso, a maioria dos produtores prefere esperar por um pouco mais de umidade para dar impulso ao plantio. Isso não significa, de forma alguma, que já esteja ocorrendo um atraso, como alguns ficam tentados a alardear toda vez que o plantio de Mato Grosso demora a deslanchar na segunda quinzena de setembro. Por isso, e levando em conta outras dúvidas recorrentes de quem ainda não é muito familiarizado com a produção brasileira de soja, eu reuni aqui cinco dicas para ajudar a entender o que é importante observar ao longo da safra.

1. Plantar Pouco em Setembro é Normal e Não Reduz o Potencial Produtivo

Os primeiros estados autorizados a plantar soja no início de cada safra brasileira são Paraná (10 de setembro), Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo (15 de setembro), Minas Gerais (24 de setembro) e Goiás (30 de setembro). Antes dessas datas, o plantio é proibido devido ao vazio sanitário – uma medida de prevenção à ferrugem asiática. Isso não significa, porém, que todos os produtores começam a plantar a todo vapor assim que a semeadura é liberada.

No Paraná, onde agosto e setembro já costumam registrar maiores volumes de chuva, o plantio tende a começar antes e de forma mais acelerada, por já haver mais umidade no solo. Em Mato Grosso, por outro lado, o inverno extremamente seco e quente faz com que o plantio dependa das primeiras chuvas da primavera – que começam na segunda quinzena de setembro, mas só se tornam mais regulares em outubro.

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Começar a plantar somente em outubro não significa atraso, nem perda de potencial para a soja. A janela ideal de plantio, aliás, começa em outubro. Quando as condições climáticas são favoráveis, os produtores já plantam na segunda quinzena de setembro apenas para terem uma janela mais confortável para a semeadura da segunda safra. A “safrinha” de algodão e de milho é plantada em janeiro e fevereiro e, quanto mais cedo isso acontece, maior a chance de terem boas produtividades. Por isso, quando o plantio da soja demora um pouco mais para engrenar, quem mais sofre é a safrinha, não a soja.

2. O Brasil É Um País Enorme e Há Grandes Diferenças Regionais

Diferentemente dos EUA, onde cerca de 85% da produção de soja se concentra no Meio-Oeste, no Brasil não existe propriamente um “cinturão produtor de soja”. A área plantada estende-se desde o extremo norte do país, em Roraima, até o extremo sul, no Rio Grande do Sul, e do extremo oeste, em Rondônia, ao Piauí, no Nordeste.

Por isso, existem grandes diferenças de calendário, clima e solo. No Sul do Rio Grande do Sul, por exemplo, a soja tem avançado sobre áreas de arroz e pode ser irrigada, pois a região tende a ter períodos quentes e secos durante o enchimento de grãos, em janeiro e fevereiro. Em Roraima, o plantio é feito em abril, maio e junho, quando outros estados já terminaram a colheita.

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3. O Avanço da Área de Soja Não se Concentra na Amazônia 

Nos últimos dez anos, a área de soja do Brasil saltou 16,4 milhões de hectares, ou 66%. Para quem é pouco familiarizado com a agricultura brasileira, esse dado pode trazer à lembrança as muitas manchetes (sensacionalistas, em sua maioria) que alardeiam a soja como a grande vilã do desmatamento da floresta amazônica. Não é verdade. Em números absolutos, o estado onde a área de soja mais cresceu nos últimos 10 anos foi Mato Grosso, com 4,1 milhões de hectares.

Mato Grosso fica dentro do chamado “Bioma Amazônia”, mas a maior parte do estado é coberta por vegetação de savana (Bioma Cerrado). Neste caso, os produtores têm permissão para desmatar, de forma legal, 35% da área da propriedade para plantar. A maior parte do avanço dos últimos anos, porém, aconteceu sobre áreas de pastagens degradadas, e não em áreas recém-abertas.

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O segundo estado que mais ganhou área nos últimos dez anos foi o Rio Grande do Sul (2,2 milhões de hectares a mais), que fica a 2,6 mil quilômetros do “Bioma Amazônia”. Em seguida e empatados vêm Goiás e Mato Grosso do Sul, também no Cerrado, com 1,7 milhão de hectares cada. No Matopiba e no Pará, estados que formam a nova fronteira agrícola brasileira, o crescimento percentual foi grande nos últimos dez anos (116%), mas não tão alto assim em números absolutos: foram 3,1 milhões de hectares na soma dos cinco estados.

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4. A La Niña Impacta o Sul do País e Não É Garantia de Quebra de Safra

Depois de amargar uma quebra de safra histórica na temporada 2021/22 – as perdas por estiagem ultrapassaram a marca de 20 milhões de toneladas –, o Brasil está dando início ao plantio da safra 2022/23 sob a ameaça de que o fenômeno La Niña esteja ativo pelo terceiro ano seguido. A La Niña costuma potencializar períodos quentes e secos que normalmente ocorrem entre dezembro e fevereiro na porção sul da América do Sul, quando a soja está enchendo grãos e definindo a produtividade.

Foi o que aconteceu em 2021/22, quando houve forte queda na produtividade do Sul do Brasil (incluindo o sul do estado de Mato Grosso do Sul, que fica no Centro-Oeste, mas tem clima mais parecido com o do Paraná, no Sul). O fenômeno, porém, não é garantia de quebra de safra, pois não atua sozinho na determinação do volume de chuvas na região. Tanto, que já houve anos de La Niña e alta produtividade. Além disso, a La Niña não costuma causar problemas à produtividade das demais regiões produtoras de soja do Brasil.

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5. Muita Chuva em Mato Grosso É Normal – Inclusive na Colheita

Em Mato Grosso, o ano divide-se basicamente em duas estações: a estação seca (abril a setembro) e a estação úmida (outubro a março). Em Sorriso (MT), por exemplo, a média anual de precipitação é de 1829 mm. Desse total, 1633 mm (89%) caem entre outubro e março. Por isso, cuidado ao avaliar mapas de desvio de chuva no estado.

Existem anos, por exemplo, em que as chuvas de dezembro, quando a soja do estado está enchendo grãos, ficam abaixo dos 310 mm considerados normais para o mês, e isso deixa os mapas de desvio com alerta de “abaixo da média”. Isso não significa, porém, que as chuvas tenham sido insuficientes para garantir excelentes condições para a safra de soja. Por isso, em se tratando do Brasil em geral e do Centro-Oeste em particular, sempre dê preferência aos mapas de chuva acumulada em suas análises, deixando os mapas de desvio em segundo plano.

Além disso, é normal chover muito em janeiro, quando começa a colheita em Mato Grosso. A média climatológica do mês para a região de Sorriso (MT) é de 319 mm. Por isso, quase sempre ocorrem problemas de qualidade, atrasos na colheita e dificuldades logísticas no escoamento da produção para os portos exportadores. Isso rende manchetes, mas é algo comum e que os produtores e demais elos da cadeia produtiva sabem administrar.

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