Pontos Principais

Em maio, a China assinou novos acordos fitossanitários. Eles permitem a importação de alimentos brasileiros até então ausentes em seu mercado, como grãos secos de destilaria (DDG), um subproduto do etanol de milho. O governo brasileiro também está trabalhando para assinar protocolos semelhantes com outros países a fim de diversificar as exportações do agronegócio. 

Há algumas semanas, o presidente Xi Jinping e Luiz Inácio Lula da Silva anunciaram, durante um encontro em Pequim, a liberação das exportações para a China de grãos secos de destilaria (DDG) — um subproduto do etanol de milho que é considerado um importante componente da ração animal. 

Atualmente, entre 99% e 100% de todas as importações chinesas de DDG vêm dos EUA. De 2020 a 2024, essas importações foram avaliadas em mais de US$ 276 milhões. 

*até março. 

Fonte: GACC

O sinal verde para o início dos embarques deve levar o Brasil a disputar uma fatia significativa desse mercado, principalmente diante das atuais tensões comerciais entre os EUA e a China. Em 2024, a China importou mais de 250 mil toneladas de DDG, segundo o governo chinês. 

Ao mesmo tempo, a produção brasileira vem crescendo, impulsionada pela demanda interna e externa. Na safra de 2024, atingiu 4,1 milhões de toneladas (36% superior à do período anterior) e, no ciclo atual, deve atingir 5 milhões de toneladas, segundo a União Nacional do Álcool de Milho (Unem). Até 2035, esse volume deve dobrar.

Fonte: UNEM

Atualmente, o Brasil exporta DDG para países como Vietnã e Turquia. Em 2024, foram exportadas cerca de 792 mil toneladas, 32% a mais que no ano anterior. 

Fonte: Comex

Com dez novas usinas de etanol de milho prontas para entrar em operação nos próximos anos — por meio de investimentos baseados na expansão da demanda — e a licença para exportar para a China, novos saltos no crescimento do mercado são esperados. 

Novos Acordos

A China também autorizou o início das importações de carne de pato, peru, miúdos de frango e farelo de amendoim.

Essa conquista só foi possível mediante a formalização de acordos fitossanitários, que asseguram o cumprimento de padrões de qualidade e controle sanitário. 

Esses acordos são essenciais para viabilizar o comércio de produtos. A intenção do governo brasileiro é diversificar os embarques de alimentos, que atualmente se concentram em poucos produtos. 

Fonte: Comex

Nos últimos anos, o Brasil assinou acordos desse tipo com países como a Índia, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Turquia. “Essas negociações são fundamentais para o aumento das exportações do agronegócio brasileiro”, diz Marcel Moreira, secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, em entrevista exclusiva ao Cz App. 

Marcel Moreira, secretário adjunto do Ministério da Agricultura

 Marcel Moreira, secretário adjunto do Ministério da Agricultura. Crédito: divulgação. 

O governo brasileiro acabou de assinar um protocolo que permite a exportação de DDG para a China. Há outros acordos dessa natureza sendo negociados?

Sempre estamos em busca de acordos fitossanitários, que liberam a exportação de determinados alimentos para os países com os quais fechamos essas negociações. É importante lembrar que desde 2023 foram abertos mercados para mais de 360 produtos do agronegócio brasileiro, em mais de 60 países, mediante a assinatura de protocolos fitossanitários. Cerca de cem produtos são de origem vegetal, como frutas, sementes, óleos vegetais e castanhas.

Em grande parte, isso é fruto do trabalho dos 40 adidos agrícolas brasileiros espalhados pelo mundo, em representações diplomáticas do Brasil. Esses funcionários públicos atuam na abertura e ampliação de mercados para o nosso agronegócio, contribuindo inclusive para o aumento das exportações.

Fonte: Comex

E o que precisa ser feito para obter autorização para exportar um alimento para um país que ainda não importa o produto do Brasil?

Essa permissão envolve uma análise de riscos fitossanitários e o cumprimento de uma sério de requisitos. Os países seguem uma sistemática muito parecida, mas pode haver requisitos específicos para determinados produtos. Concluída as etapas de recebimento dos requisitos e atendimento às especificações, podemos negociar alguns e concluir a negociação.

Estamos fazendo isso com frutas, vegetais e uma série de outros produtos. Um bom exemplo é o DDG de milho, que vamos começar a exportar para a China. Também obtivemos a liberação de exportação de gergelim para a Coreia do Sul. 

No ano passado, fechamos um acordo fitossanitário com a China para a comercialização de gergelim e, em 2020, selamos o mesmo tipo de protocolo com a Índia. Isso contribui para o aumento das exportações.

Fonte: Comex

Existe a possiblidade de iniciar a exportação de etanol de milho para a China?

Essa questão depende de uma avaliação da demanda de mercado. Estamos buscando ampliar o mercado para o nosso etanol de cana e milho. Isso depende inclusive de uma adaptação dos veículos dos países em questão à utilização de etanol.

Temos feito um trabalho com alguns países, como a Índia e o Japão, para fomentar a ideia de utilizar uma maior porcentagem de etanol na mistura. Precisamos criar um mercado externo mais amplo para o etanol.

Quais outras oportunidades estão sendo mapeadas? Há interesse em ampliar a relação comercial com a Índia, por exemplo?

A Índia é um país muito interessante para nós, pelo crescimento econômico e a expansão da classe média. Há também uma perspectiva de aumento de consumo de proteína. O consumo per capita de frango, por exemplo, ainda é baixo. Há espaço para exportação de mais frango e alimentos que são usados na ração animal. Mas ainda há alguns entraves, como tarifas de importação altas para alguns produtos.

De qualquer forma, temos trabalhado muito em conjunto com as autoridades indianas. Exportamos diversos produtos do agronegócio para a Índia e há espaço para incrementar nossa relação comercial.

Fonte: Comex

De modo geral, quais produtos do agronegócio brasileiro têm obtido mais abertura para acessar novos mercados?

Além da assinatura de protocolos para a exportação de DDG para a China, conseguimos liberação também para exportar uva e sorgo para o mercado chinês. 

Vale mencionar também que identificamos novas oportunidades para exportação de fruitas como maçã, melão e abacate, só não podemos falar sobre as negociações, que estão em andamento.

O Ministério da Agricultura vem mapeando também oportunidades para as chamadas “pulse foods”?

Sim, trata-se de alimentos muito interessantes. Trata-se de leguminosas com semente, como o feijão, o grão de bico e a ervilha, que têm alto valor nutricional e cujo consumo está em alta. Identificamos que na Índia, por exemplo, há uma grande demanda por alguns tipos de feijão, que o Brasil ainda não produz em larga escala.

Podemos investir na produção dessas espécies de feijão visando atender o mercado externo, o que pode fazer sentido para outros produtos também. Estamos trabalhando em mapear oportunidades essa natureza.

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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