Pontos Principais 

O aumento da produtividade e da área deve permitir que o Brasil produza 300 mil toneladas de cacau neste ano. Até 2030, a meta é atingir 400 mil toneladas, impulsionada por novos entrantes no mercado e investimentos em mudas, irrigação e manejo adequado. 

Brasil Pretende Se Tornar um dos Principais Produtores de Cacau

O Brasil parece mais perto de alcançar o objetivo de exercer um papel central na produção mundial de cacau, repetindo uma conquista realizada com outras commodities como soja, milho e algodão. 

Neste ano, o país deve colher 300 mil toneladas de cacau, um volume 4% superior em relação a 2024 e 10% maior do que o obtido em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Fonte: IBGE

A meta é produzir 400 mil toneladas de cacau até 2030. “Não deve haver dificuldade para isso, já que não falta terra, água e agricultores qualificados no Brasil”, disse Michel Arrion, diretor-executivo da Organização Internacional do Cacau, durante o evento global da entidade realizado em São Paulo, em abril. 

Produzir cacau em grande quantidade não chega a ser novidade para o país. O Brasil já foi responsável, nas primeiras décadas do século 20, por 25% do fornecimento global do alimento. Hoje, ocupa o quinto lugar no ranking dos maiores produtores mundiais e espera galgar postos nos próximos anos. 

Fonte: FAO

Além da gradual recuperação das lavouras na Bahia, prejudicadas nos anos 80 por pragas como a vassoura-de-bruxa e oscilações no preço internacional do cacau, um fator fundamental vem contribuindo dar um gás novo na produção.n addition to the gradual recovery of crops in Bahia, which were damaged in the 1980s by pests such as witches’ broom and fluctuations in the international price of cocoa, a fundamental factor has been contributing to the renewal of the market.

A alta do preço do cacau, que passou de cerca de USD 2,9 mil por tonelada em abril de 2023 para USD 8,4 mil por tonelada em abril deste ano, e os desafios estruturais do cultivo na África (líder da produção mundial) incentivaram um novo perfil de produtor no Brasil. 

Mudanças no Perfil do Agricultor Brasileiro

Agora, grandes grupos do agronegócio vêm se interessando pela cultura. Um bom exemplo é a Schmidt Agrícola, conhecida pelo cultivo de soja e algodão em fazendas que somam 35 mil hectares no oeste da Bahia. Há seis anos, a empresa investiu em um projeto piloto de 400 hectares para produzir cacau na região, com bons resultados. A Ideia é expandir a área para 10 mil hectares nos próximos anos.

Investimentos da ordem de R$ 200 mil (cerca de USD 35,2 mil) por hectare em mudas adaptadas às condições do cerrado, irrigação e correção do solo vêm proporcionando uma produtividade de até 3 mil quilos por hectare, seis vezes a média nacional. A produtividade da colheita brasileira, por sinal, vem aumentando. 

Fonte: IBGE

A diferença desse novo modelo de produção para as lavouras tradicionais, geralmente de pequenos agricultores, é significativo.

“Os pequenos proprietários em geral têm dificuldade de obter crédito e assistência técnica, o que acaba impactando a produtividade. Eles precisam de apoio para obter melhores resultados”, diz Ricardo Gomes, produtor de cacau na Bahia e gerente de desenvolvimento territorial do Instituto Arapyaú, voltado à promoção da sustentabilidade no campo. 

Ricardo Gomes. Photo: Ana Lee Sales/Instituto Arapyaú

Os grandes players, por outro lado, estão chegando ao mercado de cacau devidamente capitalizados e prontos para começar o cultivo em larga escala. “Já há 100 mil hectares, em Estados como a Bahia e o Mato Grosso, sendo preparados para plantar cacau”, diz Cristiano Villela, diretor científico do Centro de Inovação do Cacau, na Bahia.

Isso vem deixando o Brasil mais perto de aumentar a produção em cerca de 30% até 2030, como vem preconizando o Ministério da Agricultura e o setor privado. Grandes fabricantes de chocolate, como a Barry Callebaut, vêm inclusive revelando interesse em investir em áreas de mais de 5 mil hectares na Bahia.

Hoje, o cacau é cultivado em cerca de 640 mil hectares, principalmente na Bahia e no Pará, segundo o IBGE, com uma evolução de área constante desde 2018.

Fonte: IBGE

O Caminho do Brasil para se Tornar Exportador de Cacau 

A ideia é passar a exportar a commodity, ao invés de importar. Hoje, o país precisa recorrer às importações para suprir a demanda interna, que varia conforme o nível de estoques de cacau, a produção nacional e a demanda do mercado. Em 2024, foram importadas 25,6 mil toneladas de cacau, segundo a Comex.

Neste ano, com os estoques mais baixos, o volume das importações deve ser bem maior – só entre janeiro e março, as importações somaram 28,9 mil toneladas, 91,8% a mais do que no mesmo período do ano passado. De qualquer forma, as compras externas dos últimos cinco anos giraram ao redor de 37 mil toneladas anuais.

Fonte: Comex

Essa realidade pode mudar com a expansão do cultivo e a conquista de níveis mais elevados de produtividade, como vem acontecendo no oeste da Bahia. 

Mesmo com o cultivo em uma área de 660 mil hectares, apenas um pouco maior do que a atual, a produção já saltaria para cerca de 430 mil toneladas por ano em um cenário de uma produtividade de 650 quilos por hectare. Esse nível de produtividade é semelhante ao de países latino-americanos como o Equador – o terceiro maior exportador mundial.

Com isso, o Brasil teria condições de exportar cerca de 90 mil toneladas anuais, colocando-se ao lado de países como a Malásia e Guiné. 

Fonte: FAO

Pequenos Agricultores Precisam de Atenção

Com novos players entrando no mercado, um dos maiores desafios será manter – e até estimular — a produção dos agricultores familiares no Sul da Bahia, tradicional reduto do cultivo de cacau.  

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar oferece financiamento de até R$ 250 mil (cerca de USD 44,1 mil) a 3% ao ano de juros (bem mais baixo do que a taxa de juros básicas, de 14,5%) a produtores que adotam sistemas agroecológicos, como costuma acontecer no Sul da Bahia. Para acessar o crédito, no entanto, é preciso apresentar uma análise técnica detalhada do projeto, o que nem todos os agricultores possuem condições de fazer.  

Vale mencionar também que o governo da Bahia lançou em 2023 uma linha de crédito especial para pequenos agricultores, com juros de 6,5% ao ano. Falta ainda, no entanto, ampliar a assistência técnica especializada e incentivar mais mecanismos de acesso ao crédito. Com isso, toda a cadeia de cacau pode atingir novos patamares de desenvolvimento. 

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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