Pontos Principais

O valor das negociações caiu 29% em 2024 – em ralação ao ano anterior – enquanto os volumes caíram 25%. A retirada corporativa de créditos permaneceu praticamente estável – mas o foco crescente na retirada de créditos de carbono promete preços mais altos. 

O Valor do Mercado Voluntário de Carbono Continua Caindo

Um importante relatório anual sobre a condição do mercado voluntário de carbono – VCM (em inglês, Voluntary Carbon Market) concluiu que o valor de todas as negociações do VCM em 2024 caiu mais de 25% em comparação com o ano anterior, prolongando um declínio iniciado em 2022.

Fonte: Relatório Anual do Grupo Forest Trends

O relatório “State of the Voluntary Carbon Market 2025” (Condição do Mercado Voluntário de Carbono 2025) do grupo de pesquisa Forest Trends calculou que o valor agregado das negociações no ano passado atingiu USD 535 milhões, uma queda de 29% em relação a 2023. A Forest Trends afirmou que o valor anual das transações foi o menor desde 2018 e uma queda expressiva de 75% em relação ao recorde de USD 2,1 bilhões negociados em 2021.

A negociação de créditos VCM no ano passado também caiu para o menor nível desde 2017. Um total de 84 milhões de créditos VCM foram negociados em 2024, em comparação com 112 milhões em 2023 – 83% a menos do que foram negociados em 2021.

Fonte: Relatório Anual do Grupo Forest Trends

A pesquisa constatou que o preço médio de todas as transações realizadas no ano passado caiu 5,5%, com preços médios por tipo de projeto variando de USD 29,72/tonelada para créditos de “carbono azul” (aumento de 257% em relação a 2023) a USD 6,03/tonelada para créditos de desmatamento evitado (-23%).

Mas nem tudo foram más notícias. A retirada de créditos de carbono em 2024 manteve-se praticamente estável em 180 milhões de toneladas de CO2 equivalente, em comparação com 188 milhões no ano anterior, enquanto o número de novos projetos registrados pelas 10 principais organizações de padrões VCM atingiu 616 no ano passado, em comparação com 694 em 2023.

Fonte: Relatório Anual do Grupo Forest Trends

Com os mercados de carbono observando uma ênfase crescente em projetos que removem carbono da atmosfera – em vez de simplesmente reduzirem as emissões ou evitá-las – através do florestamento, reflorestamento ou produção de biochar, por exemplo, há um foco crescente nestes métodos como uma provável fonte de créditos de maior valor no futuro.

Relutância Corporativa e Críticas da Mídia Criam Desafios

A fraqueza geral na atividade do mercado VCM surgiu, em parte, de uma relutância crescente entre as empresas em assumir compromissos ambientais rigorosos em meio a uma perspectiva macroeconômica nebulosa, mas também da oposição política de alguns setores à agenda climática.

A guerra na Ucrânia e os seus impactos nos preços da energia em muitas partes do mundo também fizeram com que atenção se voltasse para os custos, e a descarbonização ainda é vista em muitos lugares como algo “bom de se ter”, mas não obrigatório, especialmente em meio à turbulência econômica.

O VCM também enfrentou dificuldades com a percepção pública. Relatos da mídia criticaram alguns projetos de créditos de carbono que circularam em 2022, com foco em medições imprecisas, excesso de notificação de reduções e até mesmo corrupção.

Estas críticas continuaram durante dois anos, forçando organizações de normalização como a Verra – que definem metodologias para calcular as reduções de carbono que são transformadas em créditos negociáveis – a atualizar as suas normas e a retirar algumas metodologias mais antigas.

O surgimento de órgãos quase reguladores, como o Conselho de Integridade para o VCM e a Iniciativa de Integridade do VCM, ajudou a aprimorar o foco do mercado em garantir que as reduções de emissões sejam medidas e comunicadas com precisão e que os projetos que geram essas reduções cumpram códigos de conduta mais rigorosos.

Créditos Apoiados Pela ONU Desafiam VCM

A queda acentuada na maioria das métricas em 2024 também refletiu a incerteza contínua sobre a direção futura do VCM, que está observando o surgimento de um novo mercado regido pela ONU.

Este Mecanismo de Crédito do Acordo de Paris – PACM (em inglês, Paris Agreement Crediting Mechanism), administrado pela ONU, está estabelecendo um sistema paralelo para aprovar projetos de redução de carbono em todo o mundo e emitir créditos que serão elegíveis para uso por empresas e governos que buscam cumprir suas metas de descarbonização autoimpostas.

Existe uma corrente de pensamento que acredita que o PACM da ONU, com a sua estrutura regulatória formal e envolvimento a nível governamental, será cada vez mais visto como a fonte premium de reduções de carbono, e que o VCM será visto como um canal para créditos de carbono fora do âmbito dos compromissos formais da ONU.

Na verdade, espera-se que os primeiros novos créditos em conformidade com a ONU sejam emitidos antes do final do ano, e o mercado em geral estará atento às primeiras transações desses créditos para avaliar o diferencial de preço em relação ao VCM.

 

Alessandro Vitelli

Alessandro Vitelli is an independent reporter and columnist specialising in climate and energy policy and markets for nearly 20 years. He writes about the spread of carbon markets – both voluntary and compliance – as well as the UNFCCC international climate process. Alessandro covered the development of the first UN carbon credit market under the Kyoto Protocol and observed the negotiations over the Paris Agreement and its Article 6 markets at close range. He has also covered the EU emissions trading system since its inception, as well as markets in the UK, the United States and elsewhere in the world.
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