Pontos Principais
A safra brasileira de amendoim foi estimada em 1,1 milhão de toneladas neste ano. A safra recorde está pressionando os preços, levando os produtores a reconsiderarem sua estratégia para a temporada 2025/2026. Enquanto isso, o Brasil amplia oportunidades de exportação por meio de acordos com novos parceiros comerciais.
Os produtores de amendoim no Brasil estão atentos à perspectiva de uma produção recorde e o impacto sobre os preços. A supersafra deste ano, estimada em 1,1 milhão de toneladas (quase 60% a mais do que no ciclo anterior), beneficiada pelo clima favorável e boas condições de plantio, vem pressionando as cotações.

Fonte: Conab
“A forte oferta tem impactado os preços de exportação do amendoim brasileiro, o que vem fazendo com que os produtores revejam parte de sua estratégia para o ciclo 2025/2026”, diz Wharlhey Nunes, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Entre janeiro e setembro deste ano, as cotações recuaram cerca de 25%, segundo dados da Comex.

Fonte: Comex
O impacto já é sentido no campo, especialmente depois de um ano de preços historicamente elevados. Em 2024, a tonelada do amendoim brasileiro foi negociada a uma média de USD 1.587 — cerca de 6,5% acima do registrado em 2023 e quase 25% a mais do que o valor obtido em 2020, de acordo com a Comex.

Fonte: Czapp/Comex
Área Plantada Dá Salto
A cotação favorável da última temporada acabou motivando os produtores a ampliarem o cultivo. A área plantada de amendoim deu um salto, passando de 220,9 mil hectares em 2023 para 255,4 mil hectares em 2024 — na safra atual, o crescimento estimado é de cerca de 10%, segundo a Conab.

Fonte: Conab
O Mato Grosso do Sul, conhecido por seu papel essencial na produção agrícola brasileira, tem liderado a expansão de área. Com os preços da soja andando de lado, produtores do Cerrado, celeiro de grãos no Brasil, passaram a ver o amendoim como uma alternativa atraente.
E não é só o fator econômico que pesou nessa escolha: o amendoim costuma se adaptar bem a solos mais arenosos, o que tem incentivado o plantio em áreas consideradas menos nobres e pouco adequadas a outras culturas.

Fonte: Conab
Por ser uma cultura rústica, o amendoim também exige menos insumos, o que representa um atrativo a mais. Esse combo — somado à valorização do produto no mercado internacional — animou os produtores.
Agora, no entanto, o cenário é um pouco diferente. Com os preços em baixa após uma oferta abundante, os agricultores estão revendo a área destinada ao cultivo. “No mínimo, o ritmo de crescimento deverá ser menor do que o da safra 2024/2025”, diz Nunes.
Outras fontes de mercado, como a Abex-Br (Associação Brasileira de Amendoim), estimam que pode haver uma redução de área de até 20%. “O objetivo é reequilibrar a oferta para que os preços possam voltar a um nível mais vantajoso”, afirma Pablo Rivera, vice-presidente da Abex-Br.
Em São Paulo, onde o amendoim é cultivado em rotação com a cana de açúcar, os produtores avaliam alternativas como a mandioca. Apesar do ciclo mais longo, a planta contribui para a saúde do solo e ajuda no controle de pragas. Já no Mato Grosso do Sul, a diversificação vem ganhando espaço com culturas como o gergelim e o feijão-caupi.
China se Torna Mercado Importante para Exportações
Com o aumento da produção, a busca por novos mercados externos vem ganhando força. Um passo importante foi dado no final de 2022, quando o Brasil e a China assinaram um protocolo fitossanitário que permitiu o início das exportações para os portos chineses.
Os primeiros resultados começaram a aparecer neste ano. Entre janeiro e setembro, as exportações de amendoim para China geraram cerca de USD 43,8 milhões em receita — passando as vendas para a Holanda, um dos maiores compradores do amendoim brasileiro, durante todo o ano de 2024. Nesse ritmo, a China deverá passar a figurar como um dos principais destinos das exportações brasileiras.

*Jan-Aug
Fonte: UN Comtrade
Agora, o Brasil pretende levar a parceria com a China para um novo patamar. No início do ano, tiveram início as negociações com o governo chinês para eliminar as tarifas de importação do amendoim, hoje ao redor de 12%. As conversas, que devem se estender ao longo de 2026, seguem com boas perspectivas.
A Abex-BR destaca que o óleo de amendoim brasileiro não é tarifado na China. “É um precedente interessante, que deve contribuir para o bom andamento das conversas”, analisa. A China é o principal destino das exportações de óleo de amendoim brasileiro — no ano passado, os embarques para o país somaram cerca de USD 53 milhões, segundo a Comex.

Fonte: Comex
A disputa tarifária entre as duas maiores potências mundiais tem refletido favoravelmente nas negociações. “A eliminação das tarifas é algo viável especialmente em função da guerra comercial entre a China e os EUA, que tem levado o mercado chinês a olhar com mais atenção para o Brasil”, diz Rivera.

Fonte: UN Comtrade
Europa Continua Sendo Principal Mercado para Amendoim Brasileiro
A Europa continua sendo o principal mercado para o amendoim in natura — e por um motivo simples. Enquanto os importadores chineses costumam pagar cerca de USD 900 por tonelada, com a maior parte da carga sendo destinada à fabricação de óleo, os europeus oferecem um prêmio pelo produto de maior qualidade.

Fonte: Comex
Na Europa, o amendoim é amplamente utilizado na alimentação humana, seja na produção de doces ou no consumo direto após ser torrado. A Holanda, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, pagou cerca de USD 1.800 por tonelada pelo amendoim brasileiro sem casca em 2024, segundo a Comex, enquanto os preços neste ano estão girando ao redor de USD 1.500 por tonelada. Já as vendas para a Rússia, principal destino das exportações brasileiras de amendoim, vêm oscilando em torno de USD1.300 por tonelada.

Fonte: Comex
A posição de liderança nas exportações é ocupada pelo Rússia, o que tem preocupado o mercado brasileiro. Um dos principais temores é que a ausência de acenos de paz para a guerra na Ucrânia, que já dura mais de três anos e meio, possa resultar em novas sanções, com riscos relevantes para a capacidade de pagamento russa. A precificação de uma eventual escalada de tensões sobre o custo do frete marítimo também não está descartada.

Fonte: Comex
Novos Caminhos para Exportações
Nesse cenário, o Brasil tem redobrado os esforços para a abertura de novos mercados. Algumas negociações estão em estágio avançado, com destaque para o acordo fitossanitário entre o Brasil e o Quênia. A expectativa é que o tratado seja assinado nos próximos meses, permitindo o início das exportações de amendoim para o país africano.
O Quênia utiliza o produto principalmente para a fabricação de pasta de amendoim, de alto valor proteico. O alimento é adquirido por organizações como as Nações Unidas e distribuído para pessoas em situação de desnutrição no continente.

Armazenamento de amendoim. Crédito: divulgação Abex-Br.
O Brasil também tem olhado para outros países, como a Malásia e a Indonésia, cujas economias devem crescer mais de 4% neste ano, para futuras aberturas de mercado, embora as negociações ainda não tenham começado. “É interessante abrir novas possibilidades e impulsionar a diversificação das exportações, por isso temos feito um trabalho constante de prospecção”, diz Rivera.