Pontos Principais
O Brasil deve produzir um recorde de cerca de 300 milhões de toneladas de soja e milho. A logística de transporte e armazenagem, no entanto, não acompanhou o aumento da produção, o que representa desafios de competitividade.
Safra Recorde de Soja e Milho
O Brasil deve bater mais um recorde na safra de grãos deste ano. A produção de soja deve atingir cerca de 167,8 milhões de toneladas, 13,6% a mais que na temporada anterior, e a colheita de milho, estimada em aproximadamente 124,7 milhões de toneladas, deve ser 7,8% superior à da temporada passada, segundo a Conab.
Apesar de ser um recorde, este resultado é o mais recente de uma longa série de números impressionantes de produção. Na última década, o Brasil se posicionou como um dos líderes globais na produção agrícola.

Fonte: Conab
No entanto, a cada safra recorde — impulsionada pelo aumento da demanda internacional, pelos crescentes investimentos em tecnologia e pela maior produtividade — as limitações da infraestrutura de transporte tornam-se mais evidentes.
O ponto de partida para a compreensão desse cenário é o notável crescimento da produção agrícola, marcado por taxas de expansão anuais. Na última década, a produção de diversas culturas dobrou, com destaque para o algodão, trigo e amendoim — antes dependentes de importações.

Fonte: Conab
Capacidade de Armazenamento Insuficiente
A capacidade de armazenagem, no entanto, não acompanhou o aumento da produção, criando um gargalo logístico, principalmente no que diz respeito ao escoamento de grãos, que são colhidos em larga escala em determinadas épocas do ano.
O déficit de armazenagem vem crescendo. Em 2022, atingiu aproximadamente 30% da produção de soja e milho e, em 2023, aumentou para 40%, totalizando 119 milhões de toneladas. Esses números são baseados em dados da Conab e da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.

Esse déficit significa que uma parte significativa dos grãos precisa ser enviada rapidamente aos portos, o que sobrecarrega o sistema logístico durante os picos de safra. Para se ter uma ideia, 538 embarques (operações de transporte de longo curso) registraram atrasos em 2024 nos principais portos do país, conforme um estudo da Solve Shipping e da Confederação Nacional do Transporte. Os atrasos nos portos costumam ultrapassar oito dias durante os períodos de carregamento de commodities amplamente exportadas, como grãos, café e açúcar.
Estradas Criam Gargalos
No coração desse mecanismo está o sistema rodoviário, responsável por mais de 60% do transporte de grãos do país. A predominância das rodovias não se deve à excelência logística, mas sim à falta de alternativas eficazes — e é justamente aí que reside outro grande gargalo.
Grande parte das estradas que ligam os centros produtores de grãos aos portos não são pavimentadas e estão em más condições. O Brasil possui mais de 1,5 milhão de quilômetros de rodovias, mas apenas 13% são pavimentadas, segundo o Ministério dos Transportes e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Além disso, há inúmeros problemas nas rodovias, de buracos a deslizamentos.

Fonte: Confederação Nacional do Transporte.
Essas deficiências são especialmente evidentes em corredores estratégicos, como a BR-163, que atravessa o coração do agronegócio nas regiões Centro-Oeste e Norte do país. Filas quilométricas não são incomuns durante as estações chuvosas, quando o acesso aos portos do chamado Arco Norte, como o de Itaqui, no Maranhão, se torna mais difícil.
A criação de uma nova realidade em infraestrutura de transportes invariavelmente demanda investimentos. Só a restauração de estradas exige bilhões em investimentos.
PPPs Podem Proporcionar Alívio
Embora não existam soluções prontas para resolver os problemas da logística de transporte no Brasil, tem havido um número crescente de leilões de ativos de infraestrutura e parcerias público-privadas. Desde 2020, foram realizadas mais de 20 licitações de concessões rodoviárias, captando investimentos de mais de R$ 110 bilhões (USD 19,3 bilhões).
As ferrovias também têm atraído atenção. O governo pretende incentivar investimentos público-privados em malhas como a Leste-Oeste, que ligará Ilhéus, na Bahia, a Figueirópolis, no Tocantins. Também está prevista a conclusão da Ferrovia Transnordestina, que ligará o interior do Piauí aos portos de Pecém (no Ceará) e Suape, em Pernambuco.

Ainda é cedo para avaliar o grau de eficácia de iniciativas dessa natureza, mas o país tem uma missão. O desafio não é apenas colher mais, mas garantir que cada grão chegue ao destino certo, na hora certa e com a maior eficiência possível.