Pontos Principais

  • Os preços da soja desincentivam os produtores de vender.
  • A comercialização da soja está nos níveis mais baixos dos últimos 5 anos.
  • Como isso pode impactar a exportação de outras commodities?

O Mato-Grosso é o estado com maior volume de produção e exportação de soja do Brasil e escoa 42% de sua produção pelo porto de Santos. Este ano, porém, observamos uma queda significativa na comercialização da soja, o que pode implicar em mudanças na logística de exportação.

Segundo dados do IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), as vendas de soja estão nos níveis mais baixos dos últimos 5 anos para o período, com apenas 46% da produção comercializada, contra uma média de 65%.

Fonte: IMEA

No estado líder em produção, a safra 2023/24 já está em 95,6%, níveis um pouco acima da média de 5 anos do mesmo período.

Produtores se Recusam a Vender

A principal razão para a lenta comercialização do grão é explicada pelo preço desanimador da soja, que se encontra nos níveis mais baixo dos últimos 3 anos.

Com altos custos de produção e preços baixos, a margem de retorno do produtor está sendo afetada. Os produtores fixaram os preços dos insumos entre março-maio do ano anterior à colheita, quando a soja estava próxima dos níveis máximos observados durante a pandemia.

Os produtores tinham em mente uma margem que já não é alcançável. 

Fonte: Bloomberg

Essa questão tem pressionado os produtores a não venderem a soja aos preços atuais, atrasando a comercialização na esperança de melhores margens.

Mas Vale a Pena Segurar essa Soja?

Olhando a curva futura da CBOT pela perspectiva do produtor, algumas coisas devem ser levadas em consideração.

Embora os contratos de julho (N) e agosto (Q) tenham preços mais elevados em comparação ao contrato imediato (K), o custo de carrego desempenha um papel importante na decisão.

O custo de carrego é quanto custa ao produtor “carregar” esta commodity para o futuro, armazenando a soja na expectativa de melhores preços. Assim, os custos de armazém, seguros, juros e custos de oportunidade devem ser incluídos na conta.

A curva dos próximos dois contratos da tela se encontra em carry, quando o preço futuro é superior ao preço à vista. Isso incentiva o armazenamento da soja, pois indica que, no contrato atual, a oferta é maior que a demanda.

Fonte: Bloomberg

Contudo, o custo de carrego não viabiliza esta operação. 

Considerando os preços na data de elaboração deste relatório (18/03), o custo de carrego da soja de maio a julho gira em torno de US$ 19/tonelada. Mesmo com a atual diferença de preços, os spreads curtos entre os contratos não garantem lucro ao produtor.

Com o preço do contrato de maio em US$ 1.198 centavos/bu (US$ 432,2/tonelada, considerando diferencial físico) e considerando o custo de carrego, o spread para o contrato seguinte deverá ser de no mínimo US$ 50 centavos/bu (US$ 28/tonelada) para garantir um retorno de US$ 10/tonelada ao produtor. 

Os produtores que seguram a sua soja acreditam que o preço aumentará, e que esse aumento será suficiente para cobrir o custo de carrego, uma vez que o preço atual continua insuficiente para garantir boas margens de retorno. 

Como visto acima, a margem de Mato Grosso caiu pela metade desde a safra passada, passando de 6,97 para 3,8 sacas/ha.

Impactos Logísticos

A soja é o produto de maior volume nos portos brasileiros. Para a safra 2023/24, estimamos uma exportação de 90 milhões de toneladas de soja. E desse total, mais de 27 milhões de toneladas serão exportadas pelo porto de Santos – um aumento de 2 milhões de toneladas em relação ao ano passado. 

Apesar do menor volume de soja para exportação neste ano, o atraso na comercialização deverá se refletir na curva de exportação, afetando outras commodities (como milho e açúcar).

A soja ainda não atingiu o pico de exportação e, embora, por enquanto, esteja no nível observado nas últimas safras, só começaremos a ver os efeitos do atraso na comercialização nos próximos meses. 

As exportações de milho, estimadas em 32 milhões de toneladas, deverão começar em Junho, com picos entre Julho e Outubro. Se as exportações de soja (com pico em março-junho) sofrerem atrasos, o grão poderá participar da janela de exportação de milho e açúcar, criando desafios logísticos e atrasos nos navios. 

Leticia Pizzo

Letícia joined CZ's analysis team in 2022, on a 1.5-year internship while finishing her bachelor’s degree in business administration. Since joining our São Paulo team, she has developed soybean and corn market intelligence focused on Brazilian market. She is now responsible for all the grains data, as well as providing market insights for our app.
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