Reviravolta nas Exportações de Milho: Brasil Pode Passar EUA nas Vendas para a China

Pontos Principais

  • Brasil deverá liderar embarques mundiais de milho pela 1ª vez na história.
  • Expectativa é exportar 5 milhões de toneladas do cereal neste ano para a China, em volume recorde.
  • Tarifas retaliatórias chinesas e problemas de logística tornam milho americano menos competitivo.

No início do ano, um cargueiro com 68 mil toneladas de milho brasileiro atracou pela primeira vez no porto de Guangzhou, uma das maiores cidades da China, atraindo a atenção do mercado e da mídia local. Para os chineses, foi motivo de comemoração. Com a guerra na Ucrânia, país que é o segundo maior fornecedor do cereal para a China, e os Estados Unidos (o campeão) em meio a disputas comerciais com Pequim, o Brasil se tornou um forte candidato a conquistar uma fatia importante do mercado internacional.

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Fonte: Comexstat e Czapp

A expectativa é que 5 milhões de toneladas de milho saiam dos portos brasileiros com destino à China neste ano. Para o Brasil, é uma mudança e tanto – para melhor. Nos últimos dez anos, os embarques para os portos chineses somaram apenas 1,7 milhão de toneladas. Apenas mês de janeiro deste ano, chegaram a 980 mil toneladas. Outros navios estão prontos para zarpar aos portos chineses.

Essa história começou a mudar em meados de 2022, quando representantes do governo chinês e brasileiro chegaram a um entendimento sobre parâmetros fitossanitários que travavam as exportações de milho para a China. Em seguida, a alfândega chinesa aprovou mais de 130 empresas exportadoras de milho com filial no Brasil, incluindo instalações da Archer-Daniels-Midland Co, Bunge Ltd, Cargill, Louis Dreyfus Company e COFCO International.

Hoje, mais de 400 empresas estão habilitadas a exportar milho brasileiro para a China. Apenas em janeiro e fevereiro deste ano, mais de 90 companhias receberam sinal verde para embarcar o cereal para os portos chineses.

O movimento vem sendo interpretado como uma estratégia do governo chinês de diversificar as fontes de importação de alimentos e garantir a segurança alimentar.

Maior consumidor mundial de milho, a China se vê diante do desafio de garimpar grandes volumes do cereal mundo afora. Para se ter uma ideia, em 2022 o consumo de milho alcançou a 291 milhões de toneladas no país, 2,1% a mais do que no ciclo anterior. Neste ano, deve chegar a 297 milhões de toneladas.

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Fonte: USDA

Em 2022, a China importou 21,8 milhões de toneladas do cereal, sendo que 5 milhões partiram dos portos da Ucrânia. Os Estados Unidos forneceram o restante, segundo o USDA.

Em um novo sinal dos tempos, a China comprou apenas 3,7 milhões de milho americano para entrega 2022/2023, 70% a menos do que no mesmo período do ciclo anterior.

As importações chinesas de milho atingiram seu recorde em 2021, chegando a 29,5 milhões de toneladas, em um aumento de 288% em comparação a 2020. Esse volume foi resultado de uma forte demanda por rações para a indústria de suínos. O país precisou refazer seus rebanhos ao enfrentar uma onda de peste suína africana que, desde 2018, dizimou cerca de 60% de seu plantel.

Apesar da queda de 7,6 milhões de toneladas nas importações em 2022, o volume continua 188% maior do que o de 2020. De acordo com o USDA, essa redução pode ser explicada pelas importações menores da Ucrânia devido à guerra, assim como os altos preços do milho nos Estados Unidos.

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Fonte: USDA

“É possível que a combinação de preços maiores do milho americano e tarifas adicionais de 10% para a exportação da produção americana para a China, em vigor desde 2019, tenham tornado a compra do cereal produzido nos Estados Unidos mais complexa para firmas chinesas”, avalia o economista Sandro Steinbach, diretor do Centro de Políticas Agrícolas e Estudos do Comércio da Universidade de North Dakota, nos Estados Unidos. Dificuldades logísticas, durante a pandemia, também contribuíram para agravar esse cenário.

Ao mesmo tempo, as importações da Ucrânia continuam uma incógnita, já que por enquanto não há sinais de trégua do conflito com a Rússia.

Nesse contexto, o milho brasileiro poderá ultrapassar o americano nas exportações para a China?

Segundo o USDA, o Brasil deverá liderar, pela primeira vez, os embarques mundiais de milho. O país deverá exportar 50 milhões toneladas de milho neste ano, com 27,6% da comercialização mundial, diante de 23,5% no ciclo anterior.

Os Estados Unidos, por sua vez, deverão exportar 48,9 milhões de toneladas de milho, 22,1% a menos do que em 2022. Desse total, cerca de 3,4 milhões de toneladas deverão seguir para a China.

Caso o cenário geopolítico não mude tão cedo, com a continuidade da guerra na Ucrânia e a disputa comercial os Estados Unidos e a China, o Brasil deve aumentar os embarques de milho para a China. Já neste ano, se tudo der certo, as exportações de milho brasileiras devem superar as americanas.

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Fonte: FAS, USDA

O crescimento da economia chinesa e a expansão da classe média estão entre os principais motores dessa dinâmica. O aumento do poder aquisitivo tem turbinado a procura por carne – e o cereal é um componente essencial da ração animal. Apenas entre 2009 e 2013, a demanda por milho aumentou 39 vezes.

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Fonte: USDA

Hoje, as importações respondem por apenas 2%, em média, do total de consumo de milho no país. Mesmo assim, é muito milho – e essa demanda deve aumentar, abrindo oportunidades para o Brasil.

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Fonte: Banco Mundial

Uma das pistas dessa tendência vem de multinacionais chinesas do setor de alimentação. Analistas de mercado chineses têm observado com especial atenção a COFCO International, estatal de commodities agrícolas que vem investindo fortemente no Brasil.

Com escritórios, usinas e fábricas de esmagamento de soja e silos em dez Estados brasileiros, a empresa deve desembolsar pelo menos US$ 1 bilhão nos próximos anos em obras de melhoria do terminal STS11, do porto de Santos, que arrematou em um leilão realizado no ano passado.

Nos últimos anos, a COFCO investiu mais de US$ 2,3 bilhões no Brasil. Hoje, a empresa já é a maior exportadora de soja brasileira para a China.

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Fonte: CONAB

A supersafra prevista para este ano é outro fator positivo nesse cenário. O Brasil deverá produzir 125 milhões de toneladas de milho, 10,4% a mais do que em 2022, um recorde.

Esse aumento de produção está ligado, principalmente, à recuperação da produtividade. Nas safras anteriores, o plantio de milho foi afetado por secas prolongadas. De acordo com a Companhia

Nacional de Abastecimento (CONAB), a produtividade da safra atual deverá ser cerca de 7% maior do que a do ciclo anterior, alcançando 5,6 toneladas por hectare.

Desafios

Mas nem tudo são flores. Caso as previsões de uma safra recorde de grãos (e a segunda maior de açúcar) se confirmem, com 152,7 milhões de toneladas de soja, 125 milhões de milho e 36 milhões de açúcar, os gargalos logísticos deverão entrar no radar. O principal desafio deverá ser a disputa por espaço no carregamento de trens e nos portos.

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Fonte: Williams e Czapp

O porto de Santos, o maior da América Latina, tem uma limitação de embarque de 8 milhões de toneladas de graneis sólidos agrícolas por mês. Uma das perguntas que o mercado se faz é se haverá mais demora no tempo de estadia dos navios e congestionamento nas rodovias.

Há ainda um outro desafio. O boom da produção agrícola também vem puxando o preço dos imóveis rurais. A valorização das terras destinadas ao cultivo de grãos chegou a 45% no ano passado. Nos últimos três anos, os terrenos rurais tiveram uma alta de 127,4%. Neste ano, é esperada uma certa acomodação do mercado, com aumentos de preços menores. Mesmo assim, investimentos em áreas agrícolas poderão representar um custo maior para o produtor rural.

Carla Aranha

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