Pontos Principais

  • Produto é fabricado a partir de resíduos de açúcar e grãos do porto de Santos.
  • Outros portos, como o de Busan, na Coreia do Sul, adotam programas de reciclagem.
  • Objetivo é atender metas de sustentabilidade e evitar destinação de resíduos a aterros sanitários.

Pelos menos duas vezes por semana, equipamentos de sucção percorrem os armazéns da Copersucar, uma das maiores comercializadoras globais de açúcar, no porto de Santos, em uma operação especial de limpeza. O objetivo é recolher os resíduos de açúcar e destiná-los à reciclagem. Os rejeitos seguem de caminhão até Nova Odessa, no interior de São Paulo, onde são transformados em ecoálcool.

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Um dos maiores objetivos é evitar a destinação de resíduos a aterros sanitários. O programa, criado em 2021, vem se expandindo. Hoje, cerca de 100 toneladas de resíduos de açúcar e grãos, são encaminhadas mensalmente para o processo de reciclagem.

Ao chegar na fábrica no interior de São Paulo, os resíduos passam por um processo de diluição em água, hidrólise, fermentação e destilação. É então obtido álcool 46% ou 70%.

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Neste ano, a produção deve chegar a 13 mil litros, diante de 10 mil no ano passado. Hoje, a maior parte é doada para funcionários da Copersucar e o restante é destinado para comercialização.

O potencial pode ser quatro vezes maior. Por enquanto, o terminal da Copersucar é o único com essa iniciativa. Se todos os terminais que movimentam açúcar e grãos no porto de Santos adotassem essa prática, o volume de álcool produzido seria de cerca de 40 mil litros, o suficiente para disponibilizar quase 62 mil frascos de 1 litro de álcool em gel em um ano ou 5,2 mil frascos por mês.

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De qualquer forma, não deve faltar matéria-prima para alavancar a fabricação do produto. Só no ano passado, o porto de Santos gerou 102,6 mil toneladas de resíduos, 10,3% a mais do que em 2021, acompanhando o crescimento da própria atividade portuária. Em 2022, foram movimentadas 162,4 milhões de toneladas de carga, volume 10,5% superior ao registrado em 2021. A equação é simples. Quantos mais navios e movimentação de carga, maior a quantidade de resíduos.

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Fonte: porto de Santos.

Trata-se de uma questão global. Mais de 80% de todos os bens comercializados no mundo são transportados via marítima, segundo o Banco Mundial. As embarcações são responsáveis por cerca de 20% do lixo despejado nos oceanos. Os navios geram até 300 mil toneladas por ano de resíduos que vão parar no mar, segundo estimativas da Comissão Europeia.

Não é pouca coisa. Por isso, iniciativas de reciclagem, em linha com princípios de sustentabilidade, vêm sendo implementadas em alguns dos mais importantes portos do mundo.

Com o aumento do transporte marítimo, mais portos devem adotar programas de reciclagem de resíduos. O comércio marítimo deve crescer 2,1% nos próximos quatro anos, de acordo com a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Ao mesmo tempo, o setor deve continuar a investir em iniciativas verdes para atingir metas de compliance e ESG. Alguns portos estão mostrando o caminho.

O porto de Saint John, o maior da costa do Atlântico no Canadá, lançou uma iniciativa para reciclar cordas marítimas. Em uma parceria com ONGs, o material é transformado em tapetes e cestos. Desde 2021, já foram reaproveitados mais de 3 mil quilos de cordas – o material normalmente era descartado em aterros sanitários ou no mar.

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Porto de Busan, na Coreia do Sul. Fonte: iStock

O complexo portuário de Busan, na Coreia do Sul, por sua vez, criou um programa de reciclagem de embalagens PET. Em menos de dois anos, foram recolhidas 14 mil garrafas PET. O material é decomposto e transformado em bolsas e cobertores, doados para ONGs ou comunidades carentes. Já foram produzidas mais de 10 mil bolsas, de acordo com a autoridade portuária de Busan.

O porto de Busan, que movimentou 22 milhões de TEUs de contêineres no ano passado, lançou um ambicioso plano de expansão prevê investimentos da ordem de US$ 32 bilhões até 2050. A maior parte dos recursos deverá ser utilizada para a criação de novos berços e terminais automatizados de contêineres, mas haverá espaço também para investimentos em reciclagem e metas ESG.

Uma das ideias é implementar um sistema de geração de energia alternativa inovador, por meio da transformação da energia eletromecânica gerada pela passagem de caminhões no porto em eletricidade. O custo desses projetos, no entanto, muitas vezes representa um empecilho.

Na Holanda, o porto de Amsterdã avaliou um processo para transformar plástico em diesel. A fabricação aconteceria em uma usina especialmente criada para essa finalidade. O projeto, no entanto, esbarrou no volume de investimento necessário, estimado em dezenas de milhões de dólares, e não foi adiante. Na reciclagem em portos, o futuro para estar destinado, ao menos no curto e médio prazo, a programas de alcance socioambiental que podem ser implementados rapidamente e não estressam as finanças.

Carla Aranha

Carla ingressou na Czarnikow em 2022, tendo trabalhado anteriormente na Exame e no Valor, principais veículos de mídia econômica no Brasil, onde desenvolveu projetos e cobertura de notícias com foco no agronegócio e nos mercados de commodities. Carla é responsável por escrever conteúdo, fornecer temas interessantes para artigos e relatórios, bem como produzir comunicados de imprensa em conjunto com a equipe de marketing.

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