Pontos Principais
Os produtores de soja dos EUA estão enfrentando grandes problemas. A mudança da China para fornecedores latino-americanos e a paralisação do governo estão intensificando as pressões financeiras e os desafios de armazenamento. Enquanto isso, problemas globais de transporte marítimo, atrasos regulatórios da UE e surtos de doenças emergentes continuam a prejudicar as cadeias de suprimentos agrícolas.
O governo federal dos EUA entrou em paralisação oficialmente em 1º de outubro, após o Congresso não conseguir chegar a um acordo de financiamento antes do prazo final de 30 de setembro. Mas como isso impacta a cadeia de suprimentos agrícolas?
Espera-se que a maioria dos funcionários do USDA seja colocada em licença temporária, o que pode atrasar serviços como o processamento de empréstimos e pedidos de subsídios para produtores, além da divulgação de relatórios de mercado. Embora programas obrigatórios como o seguro agrícola continuem, a redução prevista de pessoal e serviços aumenta a incerteza para os produtores que já enfrentam a queda nas exportações, perdas financeiras e desafios de armazenamento durante o pico da temporada de colheita.
Produtores de Soja dos EUA Enfrentam Pressão
Os produtores de soja dos EUA estão enfrentando uma tempestade de problemas. Desde maio de 2025, a China – historicamente a maior compradora de soja dos EUA – não adquiriu um único carregamento, preferindo comprar do Brasil e da Argentina.

Fonte: GACC
A mudança ecoa a guerra comercial de 2018, deixando os produtores ainda se recuperando dos choques de mercado anteriores e enfrentando pressão financeira no pico da temporada de colheita. Em geral, as exportações agrícolas dos EUA para a China caíram 53% nos primeiros sete meses de 2025 em comparação com o mesmo período do ano passado.

Fonte: USDA
A crise foi agravada pelo resgate financeiro da Argentina pelos EUA, que reduziu as tarifas de exportação argentinas e permitiu que compradores chineses garantissem milhões de toneladas de soja logo no início da colheita nos EUA. A soja representa 14% de todas as exportações agrícolas dos EUA, tornando-a o principal alimento exportado em valor, e as exportações totais caíram 23% em relação ao ano anterior. Produtores relatam perdas de USD 100-200/acre, e os estoques estão se enchendo de safras não vendidas.

Fonte: USDA
O governo Trump sinalizou planos para usar as receitas tarifárias para apoiar os produtores, mas a ajuda exigirá aprovação do Congresso e pode não chegar aos produtores até o início de 2026. Enquanto isso, a dependência da China de fornecedores latino-americanos parece estar se consolidando, reduzindo a probabilidade de um rápido retorno às compras de soja dos EUA em grandes volumes.
A China declarou à imprensa que retomaria as compras de soja dos EUA se as “tarifas irracionais” fossem revogadas, sugerindo que os produtores dos EUA ficarão no meio do fogo cruzado enquanto a guerra comercial Transpacífica persistir.
Política dos EUA Não Consegue Impactar a Construção Naval Chinesa
Um novo relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais – CSIS (em inglês, Center for Strategic and International Studies) sugere que a construção naval chinesa não foi impactada de forma negativa pelas taxas ameaçadoras para navios construídos na China que atracam em portos dos EUA.
Após o anúncio inicial ter causado um aumento nas encomendas nos estaleiros chineses no segundo semestre de 2024, houve uma queda significativa nas encomendas, antes de um novo aumento em junho de 2025.

Fonte: CSIS
Apesar da volatilidade, a participação de mercado da China no setor da construção naval mudou pouco desde 2021, em cerca de 40% do total global, disse a análise.

Fonte: CSIS
Os EUA têm expressado abertamente seu desejo de retornar à proeminência global no setor da construção naval. Atualmente, a capacidade da China supera a dos EUA, que representam apenas 0,1% da construção naval mundial.

Gargalos no Transporte Marítimo Global Persistem
Um novo relatório da UNCTAD constatou que o setor de transporte marítimo global está sob pressão significativa. Apesar do aumento geral na conectividade desde 2006, o setor tem sido desafiado por redirecionamentos, capacidade portuária e queda nas tarifas de frete, afirma o relatório.

Fonte: UNCTAD
Os dados mostram que houve uma queda significativa nos trânsitos pelo Canal de Suez desde o final de 2023, atingindo uma média de 41 no primeiro semestre de 2025, abaixo dos 135 nos últimos quatro meses de 2023.

Fonte: UNCTAD
Isto levou a um aumento significativo das distâncias, que agora ultrapassa em muito o crescimento do volume de carga.

Fonte: UNCTAD
Os portos também estão sentindo a pressão dos redirecionamentos e das mudanças de última hora nos cronogramas. De acordo com o relatório, o tempo médio de espera nos portos continuou a aumentar desde o final de 2023.

Obs.: a linha pontilhada indica a média de 2019
Fonte: UNCTAD
Como resultado desses problemas, houve um grande retrocesso nas metas ambientais, já vez que as distâncias maiores fizeram com que as emissões aumentassem.

Fonte: UNCTAD
Regulamentos da UE Sobre o Desmatamento Enfrentam Novos Atrasos
Em julho, informamos que a Mondelez International tinha solicitado o adiamento do EU Deforestation Regulation – EUDR (Regulamento da UE para Produtos Livres de Desmatamento), citando desafios práticos para as cadeias de fornecimento de cacau.
Agora, a Comissão Europeia parece pronta para agir em relação a essas preocupações. Em uma carta em 23 de setembro, foi revelado que o sistema de informação da Comissão para transações abrangidas pelo EUDR não poderá lidar adequadamente com todas as transações. A Comissão propõe agora adiar a entrada em vigor do EUDR para dezembro de 2026.
O EUDR aplica-se ao gado, ao cacau, ao café, ao óleo de palma, à borracha, à soja e à madeira, assim como a muitos produtos derivados.

Este atraso pode ter implicações significativas para os fabricantes de ração do Reino Unido, especialmente no que diz respeito às importações de soja. Embora o EUDR não se aplique diretamente na Grã-Bretanha, espera-se que a Irlanda do Norte siga a lei prevista no Acordo-Quadro de Windsor.
À medida que a regulamentação reforça os requisitos de rastreabilidade e de fornecimento livre de desmatamento, a concorrência pela soja em conformidade pode se intensificar, aumentando os custos.
Relações EUA-Taiwan Esquentam
O USDA lançou uma importante missão comercial do agronegócio à Taiwan, liderada pelo Subsecretário de Comércio e Assuntos Agrícolas Exteriores, Luke J. Lindberg. A delegação, que inclui 39 representantes do agronegócio e da agricultura estatal, visa expandir o acesso ao mercado e impulsionar as exportações dos EUA.
Taiwan já é um comprador-chave, classificado como o sétimo maior mercado para exportações agrícolas dos EUA, com um superávit comercial de USD 3,1 bilhões em 2024. De acordo com o relatório do USDA, isso pode oferecer oportunidades para produtores de soja, milho, trigo, laticínios, carne bovina, frutas e nozes dos EUA.

Fonte: USDA
Um sinal dessa nova relação surgiu em 17 de setembro, quando a Taiwan Flour Millers Association e a US Wheat Associates assinaram uma carta de intenções para a compra de 3,6 milhões de toneladas (132 milhões de bushels) de trigo dos EUA entre 2026 e 2029, avaliada em USD 1,3 bilhão. Cartas de intenções adicionais foram assinadas com o Conselho de Exportação de Soja dos EUA e o Conselho de Grãos e Bioprodutos dos EUA para compras de soja e milho.

Fonte: USDA
Isto acontece em meio a negociações mais amplas entre Washington e Taipei, com o governo Trump também em negociações sobre a produção de semicondutores, com o objetivo de abordar a dependência dos EUA da participação dominante de Taiwan em chips avançados.
Ao mesmo tempo, a China estaria pressionando os EUA sobre sua posição em relação a Taiwan. De acordo com uma reportagem recente do Wall Street Journal, Xi Jinping pode pressionar Trump a se opor formalmente à independência de Taiwan, enquanto os EUA reafirmam sua política de Uma Só China e seu compromisso com a estabilidade no Estreito de Taiwan.
Em Outras Notícias…
- Argentina encerra antecipadamente o período de isenção fiscal para grãos: os impostos de exportação sobre grãos, oleaginosas e carne foram restabelecidos em 24 de setembro após o teto de vendas de USD 7 bilhões da Argentina ter sido atingido em apenas três dias. A breve suspensão desencadeou uma onda de exportações, com 11,4 milhões de toneladas registradas – lideradas por subprodutos de soja e trigo – enquanto compradores chineses reservaram cerca de 1,3 milhão de toneladas de soja. A medida ressalta a necessidade urgente da Argentina da entrada de dólares, à medida que as negociações com os EUA sobre uma linha de swap de USD 20 bilhões e financiamento de emergência continuam.

- México luta para conter surto de bicheira: um surto do parasita que causa bicheira chegou a Nuevo León, a menos de 112 quilômetros da fronteira com os EUA, após uma vaca infectada de Veracruz testar positivo. As novas regras mexicanas que restringem a movimentação do gado geraram resistência do setor da carne, que alerta que atrasos podem prejudicar um setor que movimenta USD 192 bilhões. Os EUA classificaram o surto como uma “prioridade de segurança nacional”, investindo na produção de moscas estéreis e instalando milhares de armadilhas ao longo da fronteira, enquanto os portos permanecem fechados às importações de gado mexicano.
