Por que os brasileiros estão consumindo menos açúcar?

Pontos Principais

O consumo de açúcar brasileiro vem caindo há quase uma década.
Isso provavelmente se deve ao aumento da consciência do consumidor sobre o consumo de açúcar.
O que acontece no Brasil é importante para o mercado de açúcar; o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo.

O Brasil é um país que consome muito açúcar …

O Brasil é um dos maiores consumidores de açúcar do mundo em uma base per capita.
O brasileiro consome em média cerca de 125g de açúcar por dia.

O consumo de açúcar tende a ser impulsionado pela urbanização, pelo aumento de renda e fatores culturais (as regiões produtoras de açúcar tendem a comer mais açúcar do que as que não têm uma indústria de cana ou de beterraba).
Esses fatores são significativos no Brasil, que é uma economia em rápido desenvolvimento e o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo.
Além disso, mais de 84% da população brasileira vive em áreas urbanas.

Isto se correlaciona com o aumento do consumo de açúcar em áreas urbanas, onde o consumo de alimentos com maior concentração de açúcar é mais comum (bares, restaurantes, cinemas, etc).
Os população urbana muitas vezes comem mais também, significando que talvez sejam mais propensos a justificar gastar dinheiro em produtos não essenciais, ainda que agradáveis

De urbanização de lado, a população brasileira é bastante jovem em comparação com outros países, com mais de 68% de sua população com menos de 44 anos (a partir de 2019).

Na maioria dos países o consumo de açúcar reduz com a idade, talvez porque os gostos mudam à medida que as pessoas se mudam da infância para o início da vida adulta até a idade adulta.

Mas o consumo está caindo …

O consumo de açúcar no Brasil atingiu o pico há mais de uma década e agora está caindo.
O consumo de açúcar per capita vem caindo em economias desenvolvidas como o Reino Unido e a Austrália há décadas, mas agora parece também estar caindo muito nos principais países produtores de açúcar do mundo (veja nossos artigos anteriores sobre México e Tailândia ).

Pensamos que isso está ligado ao aumento da consciência do consumidor sobre a sua ingestão de açúcar.
No México e na Tailândia, isso é talvez porque os impostos de açúcar bem divulgados foram introduzidos.
Mas o Brasil não introduziu os impostos sobre o açúcar, o que sugere que o aumento da conscientização sobre a ingestão de açúcar pode se realizar em qualquer país.
Podemos ver o aumento da consciência ao olhar para as buscas do Google brasileiro desde o pico em 2009-14.

Após uma inspeção mais próxima, está claro que mais pessoas estão agora à procura de versões sem açúcar das sobremesas mais populares do Brasil.

O que está impulsionando a mudança?

Nesse ambiente, a crise do COVID tem atuado como aceleradora da mudança.
Como muitas indústrias pararam devido a restrições de bloqueio induzidas pelo COVID, o consumo de açúcar fora de casa sofreu uma bruta redução.
Embora as pessoas ainda estivessem consumindo açúcar em casa, elas não estavam consumindo o suficiente para compensar as perdas em outros lugares.

Deixando a COVID de lado, o Ministério da Saúde também está promovendo hábitos alimentares saudáveis, desestimulando o alto consumo de sódio e açúcar.
Em outubro de 2022, está planejado repaginar a rotulagem em produtos que contêm grandes quantidades de açúcar, gordura ou sal.
Por meio da nova rotulagem, espera que os consumidores pensem duas vezes antes de adquirir tal produto.

O Ministério da Saúde também está incentivando os produtores de alimentos e bebidas a reformularem seus produtos antes que os novos rótulos sejam colocados.
Em um mundo ideal, seria atingido uma redução de 144 mil toneladas de açúcar até outubro de 2022 dentro dos seguintes produtos: mix de bolo, laticínios, bebidas açucaradas e biscoitos.

No entanto, remover o açúcar desses produtos não é tão simples quanto parece:

1. Açúcar fornece o sabor adocicado

Os consumidores encontram sabores doces agradáveis, por isso os produtores podem ser relutarem em retirá-lo de seus produtos. Isto vale para aqueles que produzem produtos salgados também, onde o açúcar pode ajudar a equilibrar os outros sabores.

2. Açúcar atrai e retém humidade (é higroscópico)

Isso significa que o açúcar pode agir como um conservante, já que vai retirar a umidade para fora das bactérias, retardando o seu crescimento. Também contribui para uma consistência agradável do alimento.

3. Açúcar mantém a textura estável

Um bolo sem açúcar é um assunto triste.

4. Açúcar caramelisa

O açúcar ajuda cereais e biscoitos ficarem crocantes, o componente ajuda na formação de crosta no pão e dá aos produtos assados uma cor marrom apetitosa.

A reformulação do produto é, portanto, bastante complicada; todos os benefícios acima podem ser perdidos caso os produtores reduzam quantidade de açúcar em seus produtos.

No entanto, não há dúvida de que novos rótulos de alimentos e reformulação impulsionarão ainda mais a conscientização do consumidor sobre a ingestão de açúcar.

Impostos em alimentos com açúcar é uma possibilidade?

A equipe econômica do Governo Federal está atualmente avaliando várias propostas de impostos sobre o açúcar, mas nada de concreto foi decidido ainda.
Tal como está, parece que qualquer novo imposto sobre o açúcar substituiria o atual “IPI”, que tributa sobre quase todos os bens que são importados ou produzidos no Brasil.
Ainda é cedo, com propostas provavelmente sendo revisada várias vezes, vamos ficar de olho como as coisas estão progredindo.

Pensamentos finais

O Brasil é o maior produtor de açúcar do mundo e por isso o consumo interno em queda tem amplas implicações para o mercado açucareiro.
Parte do açúcar, que teria sido usada para produzir açúcar branco para o consumo doméstico, pode, em vez disso, ser transformado em açúcar bruto para exportação, aumentando a oferta global de açúcar.
Alternativamente, a sacarose restante poderia ser usada para se produzir em etanol.
Juntando os fatores, com nossas recentes análises sobre México, Tailândia e Brasil, é notório que o consumo de açúcar está encolhendo em muitos países ao redor do mundo, não apenas nos países com economias mais desenvolvidas.
Embora todos no mercado de açúcar aceitem que não é um setor de crescimento rápido, é possível que o consumo de açúcar não esteja crescendo nem um pouco.
Continuaremos a investigar outras grandes regiões de consumo de açúcar em um futuro próximo, incluindo a Índia, a nação que mais consome açúcar do mundo.
Retornando ao Brasil, continuaremos a monitorar novos desenvolvimentos no futuro.
É interessante notar que a proporção de pessoas obesas acima de 20 no Brasil dobrou entre 2003 e 2019 (indo de 12,2% para 26,8%).
Ainda não está claro se a queda do consumo de açúcar levará a resultados de saúde melhorados; isso é outra coisa que seguiremos.