Seca: Um novo normal para os produtores de beterraba na UE?

Principais pontos

  • O verão quente e seco da Europa afetou a saúde da beterraba.
  • A produção de açúcar da União Europeia (UE) e do Reino Unido será 8% menor este ano.
  • O que os produtores estão fazendo para mitigar os efeitos da seca?

A colheita de beterraba-sacarina de 2022/23 da UE (e do Reino Unido) está em andamento em vários países, após um verão de seca severa e frequentes ondas de calor. Esses fatores podem ser prejudiciais para o rendimento do açúcar para vários produtores.

Quatro dos últimos cinco cultivos europeus de beterraba foram afetados por condições climáticas adversas. Isso é algo a que os produtores precisam se adaptar?

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Mais um verão quente e seco

O mais recente relatório do Observatório Europeu da Seca (EDO, na sigla em inglês), publicado em agosto, colocou quase 50% da região em estado de aviso e mais de 20% em estado de alerta sobre o nível de estresse enfrentado pela vegetação — o que tem predominantemente sido o caso durante grande parte dos últimos meses.

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O calor e a seca deste ano no sul da Alemanha levaram a rendimentos perto dos níveis mais baixos desde 2015.

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Da mesma forma, o teor de açúcar extraordinariamente alto revela o estresse que a safra tem sofrido.

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Acreditamos que a Alemanha produzirá cerca de 4 milhões de toneladas de açúcar em 2022/23, a menor desde a abolição das cotas de produção anteriores à safra de 2017/18.

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Os rendimentos (e a produção) na Itália, Espanha e Romênia também devem ser severamente afetados pela seca e ondas de calor.

Considerando tudo isso, nossa visão atual é de que a Europa e o Reino Unido produzirão 16,1 milhões de toneladas de açúcar em 2022/23 — uma queda de 8% em relação à safra de 2021/22, mas maior do que a péssima safra de 2020/21.

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Culturas afetadas pelo clima estão se tornando mais frequentes?

As secas registradas este ano seguem o histórico de 2020, 2019 e 2018 em partes da Europa Ocidental e Central, embora este verão tenha sido mais severo.

Juntamente com a proibição de neonicotinóides em 2018/19, esse clima quente e seco cada vez mais frequente pode estar influenciando os rendimentos de açúcar — a média ponderada dos rendimentos na UE eno Reino Unido está em declínio gradual desde, pelo menos, 2013/14.

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Isso fica particularmente evidente na França, que produz um quarto de todo o açúcar da região e tem estado no centro das recentes secas e ondas de calor (destacadas em vermelho).

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Seca e ondas de calor são o novo normal para os produtores europeus? Esses fatores, o aumento dos custos de insumos e a concorrência com outras culturas mais lucrativas fizeram com que a área cultivada com beterraba na UE e no Reino Unido diminuísse anualmente desde 2017/18.

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Cada um dos últimos 8 anos está entre os 10 mais quentes da Europa desde 1910, e os efeitos das mudanças climáticas estão aumentando a probabilidade de que essa tendência continue nos próximos anos.

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Se for verdade, isso significaria que as médias de longo prazo da produção de açúcar se tornariam cada vez menos aplicáveis na previsão de safras futuras.

Além do clima, o mercado de açúcar da UE atualmente enfrenta uma série de outros desafios:

  • A região tem um déficit de produção que já se arrasta por cinco anos.
  • Espera-se que os estoques finais de 2022/23 sejam inferiores ao consumo de um mês, o menor desde, pelo menos, 2017/18.
  • Ainda não existem alternativas reais aos neonicotinóides.
  • O aumento dos preços da energia elevou bastante o custo do processamento de beterraba.

Houve uma resposta?

Vários membros italianos do Parlamento Europeu começaram a pedir o relaxamento das leis que controlam as culturas geneticamente modificadas, depois que o norte da Itália foi bastante atingido pela seca deste ano.

Isso segue um estudo de 2021 da Comissão Europeia, destacando que o afrouxamento das regulamentações pode ser benéfico.

Atualmente, a moderna técnica CRISPR (sigla em inglês para Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas) para edição de genes é fortemente restrita na UE, permitindo experimentação mínima para criar culturas resistentes à seca ou a pesticidas.

Seca e ondas de calor são o novo normal para os produtores europeus?

Novas variedades de culturas com maior capacidade de resistir a condições climáticas adversas seriam uma ferramenta útil para os produtores se protegerem contra futuras secas ou doenças das culturas.

Principalmente porque qualquer reversão à proibição dos neonicotinóides parece ser extremamente improvável.

No entanto, embora o verão terminado esta semana possa ter ajudado a catalisar essa conversa, pode levar

alguns anos até que a mudança seja realmente promulgada — se é que isso um dia vai acontecer.

Apesar de tudo, a produção de açúcar da UE enfrentou uma combinação difícil de crescentes riscos ambientais. Ainda não sabemos com certeza como a probabilidade de verões mais quentes será combatida.

Jay Kindred