Como o El Niño Vai Afetar a Agricultura Brasileira?

Pontos Principais

  • O El Niño deve ser benéfico para o plantio de soja no Sul.
  • No Centro-Oeste, o clima deve ser mais seco, podendo atrasar o início do plantio de grãos.
  • O impacto do El Niño, no entanto, só poderá ser mensurado nos próximos meses.

O produtor rural Elmar Konrad, do Rio Grande do Sul, está otimista em relação à próxima safra de soja, cujo plantio começa em outubro. Depois de dois anos de estiagem, a previsão do tempo pode finalmente favorecer a agricultura no Sul do país, região que vem ganhando importância na produção de grãos, com a chegada do El Niño.

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A expectativa é de chuvas mais regulares a partir de setembro, favorecendo a lavoura. Konrad, que cultiva grãos em uma área de 1.200 hectares, pretende colher quase 4 mil toneladas de soja na safra 2023/2024, mais do dobro do último ciclo. “Depois de dois anos complicados, com seca e quebra de safra, a chegada do El Niño é um alívio aqui na minha região”, diz.

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Agricultor de soja. Foto iStock.

Com isso, a probabilidade de mais uma safra de recorde de grãos vem crescendo. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) prevê que devem ser produzidas 317,6 milhões de toneladas, 16,5% a mais em relação ao ciclo anterior. Estimativas de mercado apontam que em 2024 a produção de soja, carro-chefe do agronegócio e das exportações brasileira, deve crescer 5,3%.

Os Estados do Sul devem contribuir para esse resultado, embora sem arranhar a liderança do Centro-Oeste. Neste ano, a região Sul deve produzir cerca de 38 milhões de toneladas de grãos, 65% a mais do que no ciclo anterior, mas ainda abaixo do recorde registrado em 2020. A expectativa para a próxima safra também é positiva.

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Fonte: CONAB

No Mato Grosso do Sul, que responde por 9% da produção de grãos no Brasil, os agricultores também estão animados. “Deve começar a chover a partir do final desse mês e em outubro, no período do plantio, o que é muito positivo”, diz o produtor rural Valdir Takahashi Gulo, que cultiva 700 hectares de soja e milho na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Ele deve colher 15 mil toneladas de grãos na próxima safra, 25% a mais do que no ciclo anterior. “Esse resultado se deve em boa parte ao clima”, afirma.

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Valdir Takahashi Gulo, produtor rural do Mato Grosso do Sul. Foto divulgação.

Na maior parte do Centro-Oeste, no entanto, o tom tem sido um pouco mais cauteloso. Os meteorologistas vêm alertando para a possibilidade de um clima mais seco, com algum atraso do início das chuvas, especialmente no norte do Mato Grosso e Goiás. De qualquer forma, o Centro-Oeste não costuma ser muito afetado pelo El Niño, embora neste ano haja uma expectativa de menos umidade no início do verão, em dezembro.

“Ainda é prematuro prever padrões, já que teremos mais clareza sobre os efeitos do El Niño nos próximos meses”, diz o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). “Mas, como há uma tendência de clima mais seco, o produtor rural deve investir mais em insumos de mais qualidade e assistência técnica, o que pode aumentar os custos de produção”, afirma.

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Fonte: CONAB

O El Niño, fenômeno climático que ocorre em intervalos de até sete anos, provocando o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, normalmente exerce impactos sobre o clima mundial. No Brasil, costuma ter como um de seus principais efeitos um clima mais seco no Norte e Nordeste e chuvas na região Sul.

No Centro-Sul, o El Niño normalmente provoca um clima mais quente, o que pode levar a aumento de precipitações, como discutimos em artigos anteriores . Na última passagem do El Niño, na safra 2015/2016, o maior volume de chuvas teve um efeito benéfico sobre a produtividade e as usinas moeram 618 milhões de toneladas de cana, um recorde. Em outras regiões do mundo , o El Niño deve exercer impactos diferentes.

Matopiba

O El Niño deve trazer mais calor e tempo seco na região do chamado Matopiba, que compreende o Maranhão, Tocantins, Piauí e parte da Bahia. O local, considerado a nova fronteira agrícola brasileira, responde por cerca de 10% da produção de grãos no país. Nos últimos dez anos, o crescimento na produção foi de 92%.

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Fonte: CONAB

Até 2033, a produção deve conquistar um aumento 37%, de acordo com o Ministério da Agricultura. A safra 2023/2024, no entanto, deverá exigir maior atenção do produtor rural. “Trata-se justamente da região do país que deverá sofrer o maior impacto do El Niño, mas nada que não possa ser contornado com auxílio técnico e sementes com maior poder de germinação”, diz Cunha, da Embrapa.

Carla Aranha