Pontos Principais
O Brasil inicia a temporada de grãos 2025/26 visando outra safra recorde. A expansão do etanol de milho está impulsionando a demanda doméstica. No entanto, as exportações fracas e a concorrência argentina ameaçam a meta de exportação de janeiro de 40 milhões de toneladas.
O cenário global de ampla oferta deve tornar 2026 um ano difícil para os produtores de grãos. Para o Brasil, o diferencial está no fortalecimento da demanda doméstica por etanol de milho, que deve continuar ganhando importância na região Centro-Oeste.
Com a colheita do milho Safrinha (milho da segunda safra) prevista para começar em junho e se estender até setembro, o país inicia a temporada 2025/26 com expectativas de mais uma safra recorde. Os preços ainda são sustentados por fundamentos domésticos e transformações estruturais que podem reposicionar o milho brasileiro no mercado global.
Brasil Inicia Plantio 2025/26 com Perspectiva Recorde
O plantio do milho de verão (primeira safra) atingiu 20,8% da área estimada até 22 de setembro, segundo a Conab. Ao mesmo tempo, estão sendo semeadas as primeiras plantações de soja.
Assim, o Brasil inicia a temporada 2025/26 confiante.
Durante o evento anual Perspectivas para a Agricultura Brasileira 2025/26, a Conab projetou mais uma safra recorde de soja: 177,67 milhões de toneladas, 3,6% acima da produção histórica de 2025, de 171,47 milhões.
Para o milho, a estimativa é de 138,28 milhões de toneladas, das quais 80% serão provenientes da segunda safra (110,48 milhões), 18% da primeira safra (25,1 milhões) e cerca de 2,7 milhões da terceira safra, cultivadas em estados do Nordeste e em áreas específicas da região Norte.
Fonte: Conab
Preços do Milho se Recuperam, mas Exportações Ficam para Trás
Mesmo com uma safra abundante, os preços não caíram como esperado. Após atingir a mínima de BRL 62,73/saca (USD 11,23) em julho, o indicador ESALQ/B3 começou a se recuperar e agora está sendo negociado acima de BRL 65,00/saca (USD 12,22). As estratégias de comercialização dos produtores – priorizando as vendas de soja e esperando para vender o milho – ajudaram a limitar novas quedas.
Fonte: Conab
Outro fator que impulsiona o mercado brasileiro é a transformação estrutural da demanda em Mato Grosso, impulsionada pela expansão das usinas de etanol de milho. Essa nova frente de consumo doméstico, praticamente inexistente há poucos anos, está ajudando a sustentar os preços.
As exportações, no entanto, continuam sendo um fator limitante. Até o momento, apenas 12,1% da safra atual foi exportada, em comparação com 15,1% no ano passado.
Source: Conab
Uma recuperação em Chicago ou uma maior desvalorização do real poderiam ajudar a impulsionar os embarques. No entanto, a recente decisão da Argentina de eliminar temporariamente os impostos de exportação sobre os grãos aumenta a pressão competitiva. Nesse cenário, a meta da Conab de exportar 40 milhões de toneladas até janeiro de 2026 parece cada vez mais difícil de ser alcançada.
Temporada 2024/25 Traz Lições Importantes
A última temporada foi marcada por grandes divergências nas estimativas entre consultorias privadas e agências oficiais. Em dezembro de 2024, a Conab projetou 119,6 milhões de toneladas, enquanto o USDA estimou 127 milhões. Entre as consultorias privadas, as previsões variaram de 121,3 milhões (AgRural) a 132,7 milhões (AgroConsult).
Com chuvas bem distribuídas, a safra 2024/25 surpreendeu de forma positiva. A partir de abril, consultorias privadas revisaram suas estimativas para cima mês a mês, atingindo uma média de 142,4 milhões de toneladas até agosto.
O atraso no início da estação chuvosa desacelerou o ritmo de plantio do milho e da soja da primeira safra, resultando em um atraso histórico na semeadura do milho Safrinha no Mato Grosso, estado responsável por quase metade da produção da segunda safra. Somado à valorização do dólar em relação ao real, esse cenário desencadeou uma forte alta nos preços domésticos.
O indicador ESALQ/B3 – referência oficial para os preços da soja utilizada no mercado físico e nos contratos futuros da Bolsa Brasileira – saltou de BRL 55,84/saca (USD 10,32) para BRL 90,33/saca (USD 15,92) em um ano – alta de quase 62%.
Fonte: Cepea
Apesar da percepção do risco climático, os atrasos no plantio não se traduziram em perdas significativas de produtividade. Os avanços tecnológicos, principalmente na genética das sementes e na gestão do campo, reduziram a correlação entre o calendário de plantio e a produtividade.
Tanto a safra 2022/23 quanto a atual safra 2024/25 enfrentaram atrasos históricos no plantio, mas se beneficiaram das condições ENOS (El Niño-Oscilação Sul) neutras durante o primeiro semestre e ainda entregaram colheitas recordes.
Fonte: Conab
